Leonardo Martins - Mentalista

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A Pujança do Ilusionismo na Ausência de Movimentos

Por Van Conde

Nada se renova, quando declaro que a arte mágica implica na capacidade de converter em possibilidade adventos quaisquer, cujas resultantes mostram-se aparentemente impossíveis. Por este viés que anuncio como movimento, o mágico apresenta um objeto de natureza simples e reconhecível a um espectador (como uma lâmpada incandescente) e, com alguns passes, provoca o surgimento ou o desaparecimento de algo inesperado, atingindo em última estância o ápice da ilusão – o assombro.

Nota-se que a reação do público ao presenciar um efeito ilusório é de tentar questionar, mesmo que por silêncio, o que de fato acontecera naqueles instantes que o seu lógos, instrumento da razão, fora quebrantado. Para alguns o verdadeiro sentido da mágica encontra-se na ausência de sentido que ela possa propiciar, para muitos espectadores a mágica assimila-se a um mero jogo de desafio, cujo objetivo central consiste na busca do segredo abstruso.

Ora, quantos mágicos já presenciaram espectadores que, no íntimo de suas atitudes exacerbadas, tentavam descobrir suas ilusões e, ao invés de se deleitarem com o seu esforço contínuo de trazer-lhes divertimentos e esperanças, estão ali para lançar-lhes no mais profundo abismo? Porém, o que coopera de maneira avassaladora para tudo isso consiste na própria mágica em si – no próprio efeito construído. Vejo que os melhores efeitos na mente de um leigo são edificados pela ausência do que chamamos de “movimento” e no que condiz na reunião de seus conteúdos. Por outros argumentos, alego que a mágica mais próxima da “pujança do milagre” será aquela cujo efeito possa reunir informações visuais mínimas, que possam ocasionar qualquer tentativa de aproximação da descoberta do segredo. Pequenos exemplos poderão elucidar o que almejo salientar. Questionemos as seguintes condições, sem pretensões:

Situação (a): O mágico pega um baralho de cartas, um recipiente opaco totalmente sólido, um simples lenço de pano e uma varinha para realizar um experimento. Pede para um espectador pegar uma carta qualquer e gravar o seu valor na mente. A carta é recolhida para ser misturada com as demais. Logo em seguida, o mágico efetua alguns cortes no baralho, coloca-o dentro do recipiente e o embrulha com o lenço. Quando o baralho por fim é retirado e tocado pela suposta varinha mágica, inexplicavelmente a carta do espectador encontra-se desaparecida.

Situação (b): O mágico pede para a pessoa nomear uma carta qualquer; o mágico estala os dedos e a carta desaparece do baralho.

Veja que no primeiro exemplo (a) foram detectados vários movimentos e diversas informações visuais (nota-se que até para eu fazer a descrição do número foi de nível complexo). Conjeturando o efeito em si, posso afirmar que um espectador pensaria em diversas saídas nas interfaces dos objetos propostos e alegaria absurdos para anunciar como este se dera, que a meu ver, nasceram da reunião de todos os fatores supracitados: excesso de informações (conteúdos visuais) e múltiplos movimentos. Para quem sabe o caminho para produzir este mesmo número, faz-se importante ressaltar que tanto o lenço, a varinha e o recipiente seriam desnecessários. Então para que usá-los? Ora, mágica não é sinônimo de multiplicidade de dados, e tão pouco um espectador possui disponibilidade de tempo e força de vontade para operar uma intrínseca desordem mental.

Agora, no exemplo seguinte (b) a mágica se deu de maneira límpida, objetiva, ausente de mecanismos desnecessários que somente colaboram na má digestão do efeito prometido. Isso explica por que razão alguns mágicos se surpreendem quando um espectador não dá a mínima para uma rotina de 15 minutos de cartomagia, com produções estonteantes de cartas, transformações inexplicáveis e técnicas mais do que precisas. E muitas vezes, não acreditam como uma “simples carta mordida” pode provocar em um indivíduo uma atmosfera desesperadora, de assombros e surpresas. Portanto, faz-se de suma importância questionar:

I- A ilusão mais perfeita encontraria a sua pujança na ausência de movimentos e múltiplas informações visuais?
II- Se você fosse realmente mágico, para desaparecer uma simples moeda, utilizaria diversos objetos, como: uma taça, um lenço e uma varinha-de-condão?
III- Para somente adivinhar uma carta, faz-se necessário recolhê-la no baralho?

A única resposta simples e coerente que encontro no desvelamento da arte mágica consiste na sua maior finalidade: Devolver para os seres humanos os sonhos e as utopias que o mundo gradativamente os tira. E nada mais...

(Van conde - Leonardo Paim - Vade Mecum do Ilusionismo)

Dica do meu amigo Marcelo Trevisan
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